Sempre nutri a ideia de realizar uma descrição dos diversos tipos
de loucos que infestam o planeta. Faria esse trabalho gratuitamente. Teria um
grande prazer se ele fosse solicitado por um extraterrestre ávido de conhecimentos
sobre a espécie humana. Faria uma exaustiva súmula dos nossos milenares desvarios.
Mas, como exercício de síntese, serei breve.
Na realidade, os humanos se dividem essencialmente em
duas categorias (que, obviamente, se dividem em uma miríade quase infinita de
sub-categorias): os loucos brandos (ou poéticos) que, excessivamente sensíveis,
só prejudicam a si mesmos com suas divagações. Alguns deles, os chamados sábios
e santos, conseguem transfigurar sua moléstia psíquica, atenuar o peso dessa
hipersensibilidade, imprimindo certo aspecto artístico às suas obras. Em alguns
casos, suas ideias fazem relativo sucesso e acabam se convertendo em
evangelhos, oráculos milenares, diálogos filosóficos, etc. Os loucos brandos
são facilmente solapados pelo mundo, uma vez que não aguentam o fardo da
convivência forçada, repudiam dogmas e não têm a menor condição de se adaptar a quaisquer
sistemas sociais, econômicos, etc. Além disso, fazem de suas existências uma versão
poética de sua loucura, fenômeno que abala as estruturas das sociedades nas
quais se inseriram. Por fim, falta-lhes força para varrer a opressão que sofrem
da outra categoria de insanos, sempre hegemônica, constituída pelos loucos agressivos.
Estes insistem em impor aos outros as convulsões de seu tresloucado universo
psíquico. Crêem-se úteis, indispensáveis, seres dos quais depende o
funcionamento do universo. Quando afundam, arrastam multidões com eles. Eles
são o prodígio da evolução das espécies, sua coroação absoluta, pois desenvolveram
engenhosos mecanismos de sobrevivência e adaptação, todos fundados na
aniquilação (física ou psicológica) do outro. Tal casta tem crescido
exponencialmente e seus representantes são onipresentes: Líderes políticos e religiosos, dirigentes de consultorias, empresas, estados e nações, o rol é infinito. Os loucos agressivos resistem a vírus, pragas, revoluções,
são seres fatalmente longevos. A Terra perecerá por obra deles, muito antes da
morte do sol.