O "esquecimento do ser” é um dos principais lemas apregoados por
Heidegger em todo o seu percurso filosófico. Tal esquecimento, a meu ver, é uma
verdade banal. Não há necessidade de uma pirotecnia verbal sofisticada para
elucidá-lo, nem sequer de uma volta aos pré-socráticos para que compreendamos o sentido da expressão. Sei que corro o risco de trivializá-la, mas, para um observador criterioso, o dia-a- dia se encarrega de comprovar, de uma maneira irrefutável, a veracidade e o alcance dessa máxima heideggeriana. No encontro com a maioria das pessoas, a tagarelice
delas, a avidez de novidade, o interesse mesquinho e ilimitado, são sintomas notórios desse crepúsculo ontológico. Numa tentativa de saciar a fome de frivolidades, elas querem sempre o novo, o frescor dos fatos - que no fundo parecem os mesmos. Apesar da minha resistência, essa conduta barulhenta, desesperada por manchetes da vida ordinária, me impele a ser um paparazzi ou um repórter
sensacionalista de mim mesmo. Tais criaturas me estimulam a me reificar, a me transformar em
um artefato curioso e, ao mesmo tempo, banal. . Sinto-me diante da primazia do fazer sobre o ser, sinal eloquente do ocaso dos humanos desta
época. Na realidade, não sei se o ser está esquecido. Parece-me que ele está tão ocupado com as novidades que já não tem mais tempo de ser. No mínimo, perdeu a trilha para a tessitura de um ser minimamente autêntico. O ser do ente heideggeriano transformou-se no ser doente.
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